O enredo do Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano é uma síntese da história dos desfiles das Escolas de Samba, realizados desde a década de 1930 até os dias de hoje. O título Bum Bum Paticumbum Prugurundum representa a batida do samba de Escola, diferente de qualquer outro ritmo de manifestação carnavalesca.
Este título foi tirado da entrevista que Ismael Silva (1905 - 1978), um dos fundadores da primeira Escola de Samba, a Deixa Falar, deu ao jornalista Sérgio Cabral e que está transcrita no livro de sua autoria As Escolas de Samba - o que, quem, como, quando e por quê:
Sérgio Cabral - Vocês do Estácio tinham consciência de que estavam lançando um novo tipo de samba?
Ismael Silva - É que quando comecei, o samba da época não dava para os grupos carnavalescos andarem na rua, conforme a gente vê hoje em dia. O estilo não dava pra andar. Eu comecei a notar que havia essa coisa. O samba era assim tan tantan tan tantan. Não dava. Como é que um bloco ia andar na rua assim? Ai, a gente começou a fazer um samba assim: bum bum paticumbum prugurundum.
Ismael Silva refere-se à mudança fundamental que os sambistas do lendário bairro do Estácio de Sá introduziram no samba carioca, na década de 1920. Foram eles que libertaram definitivamente o samba da influência do maxixe, inaugurando o samba na forma em que é hoje internacionalmente conhecido.
Foi a partir dai, da criação da nova batida do samba - a partir do bum bum paticumbum prugurundum -, que foram surgindo as agremiações conhecidas por Escolas de Samba. E, durante o carnaval, elas se concentravam na Praça Onze para participar do desfile que ali se realizava.
Muitos anos após, na década de 1950 quando o desfile já se realizava na Avenida Presidente Vargas, concentrando-se os sambistas nas imediações da Igreja da Candelária, as Escolas passaram a sofrer a influência de artistas plásticos de formação acadêmica e de renome, que imprimiram nova concepção ao visual das Agremiações.
Por fim, em meados da década de 1970, o luxo e a riqueza excessivos passaram a ocupar o lugar dos valores autênticos do samba. E a época das Super Escolas de Samba S.A., das Super Alegorias, que desfilam anualmente pela Marquês de Sapucaí, "escondendo gente bamba".
O Império Serrano fará neste carnaval a crônica dos desfiles desde o bum bum paticumbum prugurundum até as Super Escolas de Samba S.A. e nossa Escola virá apresentando três Escolas de samba em uma: a da Praça Onze, a da Candelária e a da Sapucaí.
Sinopse:
Primeira parte - Praça Onze ou Fase autêntica
Apresentamos uma visão do que teria sido um desfile na tradicional Praça Onze, com baianas de fila, que ajudavam na Harmonia, os famosos malandros de terno branco, sapatos de duas cores, o caramanchão, precursor das grandes alegorias da atualidade, damas e nobres de perucas e a corda esticada para evitar que pessoas alheias ao grupo desfilante se intrometessem, causando distúrbios.
Falaremos do tempo obscuro, mas autêntico, do samba das Escolas cariocas, quando os sambistas diziam no pé e o seu amor pela Agremiação era às vezes questão de vida e até de morte.
Segunda parte - Candelária ou Fase de interação
Marie Louise Nery , figurinista e aderecista suíça, mulher do artista plástico Dirceu Nery, convidada para julgar grupos de frevo, na década de 1950, encantou-se com a espontaneidade e a força dos desfiles de carnaval. A partir desse momento, ela se envolveu com Escolas de Samba, tendo sido, ao lado de Dirceu, a primeira carnavalesca com formação erudita a exercer uma influência direta na manifestação popular espontânea.
Ao casal, seguiram-se outros profissionais, tendo-se sobressaído nos Acadêmicos do Salgueiro, Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues, que usaram entre outras novidades o vime, as alegorias de mão, a coreografia de ballet de grupos folclóricos. Apresentaremos grupos fantasiados de acordo com os elementos que mais atraíram a atenção nesses carnavais, terminando com uma ala de Carmen Miranda, grande sucesso do carnavalesco Fernando Pinto, então do Império Serrano.
Terceira parte - Marquês de Sapucaí ou Escola de Samba S/A.
O super desfile com a super-campeã que naturalmente possui um super-carro repleto de super-mulheres. Nem sempre há um super-samba, mas há o super-gasto. Embora Joãozinho Trinta tenha já se destacado na época do Salgueiro, na Candelária, trabalhando com a dupla Arlindo e Pamplona, foi na Beija-Flor de Nilópolis que deu seu verdadeiro grito de independência, ditando regras e afirmando categoricamente que carnaval é luxo e riqueza.
Os enredos vencedores, de históricos e folclóricos, passam a ser fantásticos, quase sempre pouco claros para o povo, mas dando margem a que o todo-poderoso carnavalesco exercite sua imaginação, respaldado em forte esquema financeiro: Nesta parte apresentaremos alas de tal porte que cada componente é uma alegoria irreal.